Após extinguir os cobradores e embolsar seus salários, empresários do transporte coletivo obrigam todos a pagarem adiantado a tarifa via Cartão Transporte

Função de cobrador de ônibus foi extinta em Cuiabá

Mais uma vez o povo vai ter que pagar com sofrimento o lucro dos empresários. Após demissão dos cobradores, em armação cínica e sinistra os proprietários de empresas de ônibus e a Justiça de Mato Grosso criaram a lei municipal 5.541 para obrigar todos os usuários do transporte coletivo a comprarem o Cartão Transporte (CT) e assim pagar de forma adiantada a tarifa de ônibus, é dinheiro garantido sem risco de perda, negócio assim nem na China!

O teatro

A manobra vem sendo preparada há tempos como uma grande encenação teatral. Entenda:

1) Para cortar gastos e maximizar os lucros, proprietários das empresas de transporte metropolitanos organizam demissões em massa dos cobradores, estranhamente sem grande resistência do STETT (Sindicato dos Motoristas Profissionais e Trabalhadores de Empresa de Transporte Terrestre de Cuiabá e Região). Os motoristas passaram exercer dupla função, motorista e cobrador.

2) Os empresários queriam mais, além de embolsar o dinheiro que era destinado ao pagamento dos cobradores (pois a tarifa não reduziu com as demissões), os capitalistas do transporte queriam garantir o pagamento adiantado pelos serviços. Então, imediatamente a Câmara de Vereadores de Cuiabá criou a Lei nº 5.541, de 27 de abril de 2012, obrigando todos os usuários adquirirem o Cartão Transporte.

3) Percebendo a ilegalidade do motorista exercer dupla função, a Justiça de Mato Grosso, via Ministério Público Estadual (MPE), ao invés de obrigar os empresários a recontratar os cobradores garantindo assim o direito dos usuários do transporte pagar o ônibus somente quando desejar utilizá-lo e salvando dezenas de empregos, fez justamente o contrário. Determinou que os capitalistas do transporte devessem imediatamente se negar a receber o pagamento a vista e aceitar somente o Cartão Transporte. Como num teatro, o MPE chegou a afirmar que prenderia os empresários que não cumprissem a decisão! A justiça diz para o leão que ele é obrigado a comer carne ou vai prendê-lo, e nós temos que acreditar que a justiça está enfrentando a ganância dos capitalistas?

Motoristas exerciam dupla função

De acordo com a Associação Mato-grossense dos Transportadores Urbanos (MTU), entidade que representa os patrões, cerca de 50 mil pessoas ainda não possui o cartão, logo, estão impedidos de transitar em Cuiabá via transporte público!

  

Na terça-feira (21) foi o primeiro dia de vigência da lei, os primeiros resultados foram milhares de trabalhadores obrigados a descer do ônibus porque não tinham o Cartão Transporte, mesmo eles estando com dinheiro para pagar a tarifa.

Em entrevista ao Jornal A Gazeta, a Associação dos Usuários do Transporte Coletivo (Assut) explicou que "a obrigatoriedade do cartão é arbitrária e inconstitucional, já que restringe o direito de ir e vir da população". A presidente da Assut, Marleide Oliveira Carvalho, informou que a associação vem lutando contra o escândalo: “Desde o ano passado estamos denunciando a situação ao Ministério Público, quando começou a faltar cobradores nos ônibus. A lei só veio a amparar o corte dos profissionais pelas empresas, reduzindo assim os gastos com folha salarial e quem sofre é a população”.

Ao site G1, Marlene disse ser ilegal a ação da justiça e dos empresários. "Não existe lei que proíba a circulação de moeda nacional em nenhum local, e nem todos os usuários possuem o cartão, o que tem gerado muito transtorno e reclamação dos usuários desde o primeiro dia de validade dessa nova lei".

Transporte público de verdade já

Em Cuiabá o transporte público é privatizado, concedido pela prefeitura à exploração de empresas privadas. A secretaria de Trânsito e Transporte Urbano de Cuiabá (SMTU) deveria regular a concessão cobrando qualidade nos serviços, deveria mais não faz. É evidente que o transporte público em Cuiabá não funciona: ônibus sempre lotados, não possui acessibilidade, veículos sucateados e tarifas abusivas.

Está mais do que comprovado que a privatização no transporte não funcionou e está na hora da prefeitura assumir os serviços, criando a Empresa Municipal de Transporte Metropolitano, como acontece em outros países. O transporte nas mãos dos empresários visa sempre o lucro e não a qualidade nos serviços. A empresa pública de transporte terá como função central o atendimento das necessidades do povo, por isso a tarifa seria mais barata. Essa é a única forma de garantir o respeito aos idosos, gestantes, mais veículos para acabar com a super lotação e garantia e ampliação aos fins de semana do Passe-Livre Estudantil.

Uma pergunta que precisa ser respondida: Com o fim dos cobradores de ônibus a tarifa não reduziu. Então, para onde foi parar o dinheiro que era gasto com os salários e benefícios aos trabalhadores?

Fábio Ramriez