Fim do vestibular de verdade, só com vagas para todos!

O ‘fim do vestibular’ anunciado pelo Ministro da Educação Fernando Haddad e apoiado fervorosamente pela UNE e UBES, não passa de uma fraude
No projeto apresentado pelo governo Lula o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) se tornaria o exame substituto ao vestibular em todas as universidades federais. Ao vez do aluno prestar uma prova específica da instituição no qual almeja estudar, ele passa a prestar o ENEM. Assim, o governo anuncia o fim das provas locais de seleção como sendo o fim do tradicional vestibular, mas na verdade o funil continua existindo pois praticamente não se cria novas vagas. O governo “esquece” de avisar aos jovens que a maioria esmagadora deles continuará fora da universidade.

O vestibular vai acabar?

Na prática o vestibular não acabou. Em vez do jovem ser barrado pelo vestibular, é barrado pelo novo ENEM! Quase nada muda.

Antes os cursinhos lucravam com a má qualidade do ensino fundamental, "vendiam promessas" de se chegar a uma universidade federal e anunciavam orgulhosamente até na TV seus alunos primeiros colocados no vestibular. Agora anunciam os primeiros colocados no ENEM. Trocaram-se os nomes dos bois, de vestibular para ENEM, mas o boi não deixou de ser boi.

A campanha do governo tem um objetivo: tentar amenizar a constante e crescente pressão por mais vagas na educação pública superior. O aumento de vagas nas universidades públicas é praticamente insignificante frente à imensidão do número de jovens que não estudam porque não há vagas.

Em tempos de crise

Com a crise do capitalismo, o número de jovens sem poder cursar uma universidade tem se ampliado ainda mais. A inadimplência nas instituições privadas têm aumentado como primeira consequência do aumento das mensalidades e do desemprego. Várias faculdades já decretam falência, mesmo recebendo generosos bônus financeiros do governo, através do FIES e PROUNI, além é claro, dos empréstimos a juros insignificantes jamais oferecidos aos trabalhadores.

Cada vez mais jovens estão sem ter onde estudar, por isso o governo manobra criando a falsa imagem de democratização ao acesso.

O movimento estudantil

A posição histórica do movimento estudantil é universalização do ensino público com vagas para todos. Essa foi a bandeira que esteve na fundação da União Nacional dos Estudantes - UNE e da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas - UBES. Essa luta levou milhares às ruas enfrentando governos autoritários, ditadura e repressão. A luta pelo livre acesso à universidade se confunde com a história das lutas estudantis no Brasil.

Mas hoje as direções da UNE e da UBES parecem ter perdido sua memória. Abaixaram as bandeiras e passaram a pedir somente algumas melhorias cá, outras lá, para depois aplaudirem o governo. Assim foi com o anúncio do “fim do vestibular”, imediatamente Lúcia Stumpf, na ocasião presidente da UNE, declarava ao jornal O Globo: “É uma excelente ação que facilitaria o acesso aos vestibulandos (…) há muito tempo nós defendemos o fim do vestibular e a busca de um novo sistema de ingresso nas instituições federais”.

Já o presidente da UBES, na época Ismael Cardoso, depois de elogiar a atitude do governo em propor uma avaliação mais “justa” para substituir o vestibular, sugere uma precisão no programa, dizendo no site oficial da entidade que “outro ponto reprovado é o uso do ENEM como prova base para a unificação (…) será mantido o atual sistema de prova única (…) o melhor é aplicar o ENEM de maneira seriada, ou seja, no final de cada ano do Ensino Médio”.

Mais uma vez uma discordância cá e outra lá, para não parecer que a UNE e a UBES apenas dizem amém ao governo, criticam a forma mas defendem com unhas e dentes o conteúdo dos projetos apresentados pelo governo.

A verdadeira luta é vagas para todos

O problema é que não há vagas para todos! Neste momento o papel central da UNE e da UBES deveria ser de mobilizar os estudantes para pressionar o governo pelo fim do vestibular com vagas para todos nas públicas. Retomando a bandeira histórica de universalização.

Se tivéssemos vagas para todos não precisaríamos discutir PROUNI, FIES, cotas e tantos outros programas que ao fim beneficiam os empresários da educação.

Ampliação e construção de mais universidades públicas já! Essa deveria ser a declaração do movimento estudantil.

O capitalismo e a exclusão
A imensa maioria continua fora da universidade pública na nova proposta do governo. O capitalismo busca de todas as formas culpar o indivíduo por não conseguir a vaga, busca acusar o jovem que não conseguiu entrar no funil de ser incompetente, menos capaz. Quando na realidade a culpa de só entrar alguns nas universidades públicas é da existência do capitalismo, é ele o responsável pela exclusão, lutemos então pelo socialismo, por vagas para todos nas universidades públicas já!

Dinheiro para construção de universidades existe, não para um futuro longínquo, mas para já. Começa com o governo rompendo a coalizão com a burguesia para assim destinar o dinheiro público para o povo, a começar pelos 185 Bilhões pagos de juros da dívida em 2008 e os mais de 200 bilhões dados para os empresários enfrentar a crise que o próprio capitalismo criou.

Fábio Ramirez

OBS: texto escrito em 2009

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