A Grécia e o Brasil - oportunismo, ultraesquerdismo e Frente Única (nota política da Esquerda Marxista)
A Grécia foi o berço da democracia, o local aonde as decisões eram tomada pelo voto do povo em praça pública.
Hoje,
na Grécia, a simples proposta de “consultar o povo” sobre o acordo com a Troika (União Europeia (UE), Banco Central Europeu (BCE) e Fundo
Monetário Internacional (FMI)) derrubou o governo e em seu lugar o
capital financeiro internacional nomeou um “governo técnico” com
gente do Banco Mundial e FMI. Agora, nas
eleições de 6/5/2012, os partidos que defenderam e aplicaram os acordos
antipovo na Grécia não chegaram a 40% dos votos. Mas, no parlamento de 300
assentos (uma pesada ironia sobre os 300 de Esparta), eles ficaram com 148
votos. Como? Por causa de uma regra que dá ao partido mais votado um “bônus” de
50 parlamentares. E o partido que fez 19,8% dos votos (Nova Democracia) salta
de 58 cadeiras para 108 cadeiras.
Uma
importante lição política se pode apreender desta situação. Ela ressalta em
primeiro lugar que o sectarismo é a outra face do oportunismo. E neste caso se
expressa na política verdadeiramente criminosa do KKE, o Partido Comunista
Grego, que se recusou a fazer uma aliança eleitoral com ao frente de esquerda
Syriza (cujo principal partido é Synaspismo, uma cisão do KKE, e onde militam
os marxistas da Corrente Marxista Internacional (CMI) na Grécia). Syriza
propõe recusar o pacote de arrocho imposto pela Troika, a ruptura com o euro e
não pagar a Dívida Externa, entre outras propostas. Mas, o PC não se aliou com
Syriza porque “nós, o KKEsomos a única força revolucionária na Grécia”.
A
Syriza fez 16,8 % dos votos passando a ser o principal partido de esquerda
grega. Apenas 3% atrás do primeiro colocado, o maior burguês Nova Democracia,
que por isso levou o “bônus” de 50 deputados a mais.
O KKE tem uma posição divisionistas
e sectária igual a do PC alemão em 1931 a 33 que dividiu a classe operária alemã
e permitiu a ascensão e tomada do poder pelos nazistas. Naquela época, seu
principal dirigente, Brandler, dizia que “a chegada de Hitler ao poder é apenas
a primeira etapa da situação que será a tomada do poder pelo Partido
Comunista”. Ele dizia “Após Hiltler, o PC Alemão”. Todos sabem o que aconteceu.
A Secretária Geral do PC Grego, AlekaPapariga, declarou antes das eleições, que seu objetivo era que saísse das eleições
uma maioria burguesa débil, que fizesse um governo débil, porque o próximo
passo depois disso seria o PC o partido majoritário e um governo comunista.
Assim como seu irmão sectário Brandler ela estava errada em todos os aspectos.No
dia das eleições AlekaPapariga declarou que o PC foi "a única força política que teve um aumento
significativo nas eleições nos âmbitos local e regional". Espantoso quando se sabe que o PC cresceu só
1% sendo que Syriza passou de 4,6% para 16,8%.
O PC
grego ao recusar a aliança com Syriza garante que a direita governe pagando a
Dívida e massacrando o povo grego, assim como é o fator que impede a
constituição de um governo de ruptura com o euro e não pagamento da Dívida.
A
grande imprensa internacional se contorce com o impasse político e econômico na
Grécia e exige que algo seja feito. Uma pequena fração da burguesia e pequena
burguesia grega se inclina por uma saída fascista (o grupo nazista Amanhecer
Dourado fez 7% dos votos), mas essa saída não pode ser apoiada, neste momento,
pela grande burguesia que teme a resposta do proletariado.Após a catástrofe da
colaboração de classes do PASOK agora vemos o espetáculo trágico do sectarismo
ultra-esquerdista. Quanta coisa semelhante entre Brasil e Grécia.
O pano de fundo é a crise que continua
Em
todo o mundo a crise continua com força renovada e os truques políticos e
econômicos começam a ratear. A Espanha acaba de estatizar o 3º maior banco do
país e nos EUA, Obama, para não ter que falar de economia, acaba de declarar
apoio ao casamento gay. Este é o debate entre os dois pretendentes ao trono da
nação mais poderosa do planeta quando os empregos não vêm, os trabalhadores
continuam descendo e os de cima subindo.
As
bolsas caíram no mundo inteiro e com alguma sorte e muitos truques depois voltarão
a subir e continuarão a acumular riquezas nas mãos de poucos e espalhar
sofrimento e morte pelo mundo. O capitalismo não acaba sozinho. Ele precisa de
um coveiro.
No
Brasil, o dólar subiu e Dilma, os ministros, governadores, economistas e
analistas todos dão graças a algo que não entenderam. Afinal, mais que qualquer
medida que o governo tenha tomado é a retomada da crise que força o dólar pra
cima no mundo inteiro. Na tempestade, o porto mais seguro para os capitalistas
ainda é os EUA. E Brasil faz parte deste sistema global.
Perdidos na Crise
De
fato, a burguesia internacional está confusa e tão perdida como os que no Brasil
tentam substituir a discussão sobre o início da crise no Brasil por um
espetáculo com a CPI Carlinhos Cachoeira. CPI que uns tentam sepultar para
esconder o que pode vir à tona enquanto outros são entusiastas da CPI para tentar
se defender das acusações do dito “mensalão”.
Num espetáculo
político digno da burguesia brasileira e seus agentes no movimento operário se
vê o ex-delegado Protógenes, agora deputado federal do PCdoB, supostamente
comunista, salvando a honra de Collor de Mello (“Presidente, não foi só Vossa Excelência que
foi injustiçado. Eu também fui"). O Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, acobertando o
senador Demóstenes Torres (DEM), avatar de Carlinhos Cachoeira no Senado,
enquanto prossegue sua cruzada de criminalização do PT através do processo do
mensalão.
Deputados aprovam salário de R$ 32.147,90 para
os ministros do Supremo Tribunal Federal e para o Procurador Geral da
República, que provoca um efeito cascata no Judiciário e na Procuradoria. Tudo
retroativo a 1º de janeiro. "Tem orçamento previsto
para isso", disse o vice-líder do governo, deputado Luciano Castro. E ao
mesmo tempo o salário dos professores universitários e servidores federais
estão congelados. Dilma tem nas mãos
para aprovar ou vetar o novo Código Florestal do agronegócio que passa a ter a oportunidade de queimar e devastar o campo a
vontade, sem lei e sem controle.
A grande coligação da direção do PT, afinal,
serve muito bem para derrubar direitos previdenciários, para desonerar a folha
de pagamentos e onerar o trabalhador, mas não serve para recusarem projeto criminoso
como este Código Florestal do agronegócio. E o mesmo Congresso adia pelo quarto
ano seguido a proposta de desapropriação das terras onde for encontrado trabalho
escravo.
A solução da crise dos de cima está na mão dos debaixo
Dilma traça o seu caminho, com Collor, Sarney
e tantos outros. Os trabalhadores farão sua experiência. Nós, marxistas, traçamos
o nosso ao lado daqueles que sofrem mas não se rendem, exigindo que o PT rompa com
esta coligação e volte a trilhar o caminho da classe trabalhadora, reate com a
luta pelo socialismo.
O destino do Partido Socialista grego, o PASOK, que desaba
da posição de majoritário para 13,2% dos votos deve servir de alerta a todos os
que continuam a privilegiar a aliança burguesa e a salvação dos capitalistas,
como fez o PASOK. A crise continua e fará muitas vítimas, mas a classe
trabalhadora aprenderá na situação caótica que se cria e forçará passagem.
Hoje, a burguesia grega muito provavelmente
terá que convocar novas eleições, pois o partido que chegou em primeiro lugar
não consegue constituir uma coligação de maioria para formar um novo governo.Se
os apelos de unidade de Syriza ecoarem no KKE e a unidade se realizar com base
na ruptura com o euro e não pagamento da Dívida, a direita pode ser derrotada e abre o
caminho para um governo da classe trabalhadora. Isto sim seria fazer valer a
democracia hoje pisoteada na Grécia.
De qualquer modo não se pode ter esperanças
na orientação da maioria da direção do PT. A solução só virá da luta dos
trabalhadores e da juventude. Da organização e mobilização em defesa de suas
reivindicações, direitos e conquistas é que o nível político crescerá entre a
vanguarda e as massas e a questão de outro caminho, a luta pelo socialismo, vai
se colocar nas ruas, fábricas, locais de trabalho e escolas. A Esquerda
Marxista está aí ocupando seu lugar nas batalhas da classe e contra estas
alianças que só podem provocar desgraças.
Comissão Executiva da
Esquerda Marxista
10/05/2012
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